Hoje tive a autista idéia de ir ao cinema sozinha. Sensação estranha, diga-se de passagem, mas necessária. Munida de minhas musicas saio de casa as três e pouco com uma idéia na cabeça, tempo livre e apenas um afazer a ser cumprido. O resto era motivo pra passar o tempo, enrolar o dia e dizer que algo eu faria.
Decido que irei ao pequenino shopping do bairro, é mais perto, mais barato e a preguiça de pegar metro, e ou ônibus, e ou trem me consomem, sendo assim a lei do menos esforço toma conta da minha escolha. Sessão das quatro horas, em plena segunda - feira, na única sala de cinema do então dito shopping. O publico: eu e crianças de até dez anos acompanhadas dos pais. Juntos éramos menos que 30.
Resolvi sentar na fileira encostada na parede, um pouco acima do fileira central. Estava ilhada, essas poucas pessoas sequer podiam me ver, adotei o estilo excluída da vida. Para acompanhar meu filme comprei uma água, é light, barata e não faz mal.
Enquanto esperava o começo do filme ouvia Ventania. Sentia as caminhadas do maluco sonhador guiar meus pensamentos. Viajava na viagem dele. Mantive-me assim por uns dez minutos, até que as luzes se apagaram e o trailer começou.
Fui assistir Madagascar 2, isso explica a quantidade de crianças que preenchiam discretamente as poltronas da sala. Lembrei de varias pessoas, que não cabem serem citadas, dei risada sozinha, comentei com o silêncio o filme, -tenho mania de comentar durante o filme-, e por uns instantes era só eu, um leão de mentira, uma zebra preta com listras brancas, um hipopótamo carnudo e uma girafa apaixonada.
Uma hora e vinte e poucos minutos depois tomei o rumo de minha casa novamente. Fone no ouvido, pensamento distante, reflexões incoerentes e um corpo andando entre outros corpos jamais vistos até então e novamente.
Eu não sei explicar de verdade o que acontece, mas a cada dia me esforço pra sei lá, deixar minha vida mais leve e solta. Sinto que as palavras precisam de verdade quando são ditas e talvez seja por isso que me encontro muda. Não que não seja verdadeira, mas meus sentimentos estão forçados, amarrados a convicções que não sei quem criou. Sou uma fraca e me sinto mal ao saber que me conformo com isso. Sei lá, essa é a palavra, sei lá...
Fiquei me imaginando no lugar daquelas crianças e seus pais, com toda certeza algo passou pela cabeça deles quando viram uma moça no cinema sozinha, assistindo filme de criança, às quatro horas da tarde de uma segunda feira no período de ferias. Se eu fosse um daquelas crianças e visse essa cena logo perguntaria aos meus pais por que isso estava acontecendo, iria ficar inconformada, pois nessa idade eu acreditava que todas as pessoas andavam juntas uma das outras. Nunca me passaria pela cabeça que essa sentença não é a única verdade. E se eu fosse os pais delas!? O que será que eu pensaria , talvez que essa garota enfrenta sérios problemas de relacionamento, que ela é autista , ou que é uma desocupada.... Ou sei lá também, talvez não pensasse nada, afinal nada iria mudar no roteiro do filme e da minha vida.
Fato é.... O filme é bem legal , o cinema pequeno, mas confortável, a meia entrada é barata, - três reais pô -, a água estava gelada, a minha trilha sonora era companheira, e eu estava compartilhando de momentos com a Vany.
É lógico que com uma boa companhia tudo isso passaria despercebido e os créditos iriam todos a ela. Mas como, "quem não tem colírio usa óculos escuros ", acabo minha narrativa aqui, indicando o filme, refletindo sobre meu dia e bocejando o cansaço que o ócio provoca.
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